domingo, 14 de novembro de 2010

Algures por cima do arco-íris... (Somewhere over the rainbow)

Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.

António Gedeão, in 'Linhas de Força'



Que heroísmo é este? Que luta nos leva a levar para cenários de guerra jovens e não tão jovens soldados, deixando-os lutar num sopro sem fim de glória fingida, numa luta infindável de patriotismo inflado, numa morte indigna de pouco heróica que é?

As lutas mais dignas são as que se fazem sem armas de fogo, são as que tornam gerações em Gerações, as que têm um cariz humanista e visam mudar o paradigma e a mentalidade vigente. Por vezes
- gostava de ter vivido na época do 25 de Abril
- o que é isso
perguntam vocês. Que época foi essa? Mitificada pela poeira da estória que nos é contada, pouco polida na memória dos pais e avós que nos transmitem, esta época é, continuo a crê-lo, um dos maiores períodos de participação civica da nossa História. Todos tinham ideias a expôr...
(- ideas estúpidas, 'tavamos bem era com o salazar)
não era?

Falta na nossa sociedade essa vontade que julgo ter existido, essa força comum, esse crer na
-democracia, é este regime que habitamos?
- "o pior de todos, excepto todos os outros"
Bom velho Churchill... Será que é um ideal para se viver? Voltar a credibilizar a classe política? Devolver ao país a esperança?

Eu digo que não.
- o quê, diogo?! Tu que és todo de mudança e não sei o quê, não acreditas nisso? Nem tu?
Nem eu. É insensato acreditar que passar a minha vida a lutar pela credibilização da classe trabalhadora mais descredibilizada no país (e quem sabe no mundo) é algo atingível em vida. É e sempre será nobre, mas é e sempre será inglório, destruidor da pessoa que luta, e necessitado de seguimento nas gerações seguintes.
-quero simplesmente ser feliz
como dizia em puto, e sei que nunca o serei se só dedicar a minha vida a isso.



Obrigado pela intervenção, mas este que fala em itálico não sou eu. Este seria o meu discurso se não fosse teimoso. Não, não vou dedicar a minha vida só a isso, mas não esperem de mim a resignação. Convencerei todos quantos for possível de que mudar não é uma palavra em desuso. Tenho a certeza de que vou chegar à conclusão que isso só se faz com passos simples. Não posso procurar passos de gigante pois nunca os atingiria e estaria a condenar-me ao pessimismo após a derrota ou ao optimismo insensato e sem qualquer sentido de realidade.

Comprometo-me aqui, e perante todos os que quiserem ouvi-lo, a tornar portugal em algo maior. Quero viver para falar com todas as classes sociais, visitar todas as latitudes do país, conhecer todas as opiniões sobre o melhor para nós, maturar tudo o que vi, ouvi e tacteei e criar o melhor que já viram. Não vou ser mais um. Não posso ser mais um. Não me vou enfiar num partido a não ser que precise mesmo disso para atingir este fim, vou pedir ajuda a todos e vou tentar ajudar quase todos - mesmo os que me recusarem auxílio. Quero criar a melhor equipa que já viram, uma equipa com um espectro político diversificado, uma equipa que não se guie pela ideologia mas pelo ideal de acção, que busque consensos e aquilo que acha que é na realidade o melhor para o país. Vamos errar. Vamos ser criticados e vão-nos travar o caminho, mas não atacaremos na mesma moeda. Quero um grupo de pessoas que não estejam interessadas neste projecto como um meio para a popularidade ou para um melhor salário, mas sim que se revejam nesta vontade. Só com uma equipa espalhada pelos diversos sectores do país é que conseguiremos atingir este fim. Só com uma vontade comum, com uma vontade explícita de agregagação em torno deste objectivo, com uma dignidade que muitos julgam perdida e com uma força que muitos julgarão não termos, só assim chegaremos a algo. Quero congregar Portugal e projectá-lo no mundo como uma nação pela qual vale a pena lutar. Quero ouvir todos os sectores de actividade do país
-alguém tem uma lista de profissões existentes neste cantinho da europa? Estou a precisar duma...
Só descansarei quando tiver um certo à frente de cada profissão em como já falei com eles e já recolhi a sua opinião. Vou fazer um mostruário de medidas necessárias para um país melhor e espero viver para o pôr em prática.
-chamem-me idealista! Chamem...! Chamem-me doido varrido, irrealista, insensato, demasiado isto ou demasiado aquilo
será um prazer ouvi-lo. Serão elogios. Chovam-me com críticas em relação ao que fizer mas venham-me com elas estruturadas e construídas. Não me venham com ataques à vida pessoal mas sim com projectos a dizer-me o que está de errado no que faço e o que posso fazer para melhorá-lo. Nesse momento serão mais um na nossa equipa. Vou precisar de braços direitos, esquerdos, pernas, pés, cabeças, troncos... E vou precisar de pessoas muito melhores que eu, que vejam muito para lá de mim e me elevem ao seu nível. Só tenho um pedido para vocês
- ajudem-me
e uma pergunta
- quem está comigo?

Espero daqui a uns anos continuar a ser o rapaz que escreveu este texto, espero comover-me ao lê-lo. Se me estiver a desviar desta pessoa, por favor avisem-me e ponham-me novamente no carril. Venham para o carril comigo. Guiem-me.

Não vou ser um político, vou fazer política.



Dedicado a todos os que já sonharam e concretizaram uma mudança que os restantes criam impossível.
Carpe Diem
Diogo

3 comentários:

  1. é triste quando nos apercebemos de que integridade e política estão em hemisférios opostos, e é mais triste ainda quando vejo a minha geração resignar-se com isso. Quando algo está mal jamais deverá haver resignação... Se o sistema está na merda não é nossa função encolher os ombros e afundarmo-nos nessa merda também ou ajudar a produzi-la. é nossa função limpá-la, mesmo que ela não seja, e não é, a nossa.
    "Eu ser político?! Os políticos são todos uns mentirosos!" Verdade, mas ficares de fora não ajuda.

    Gostei imenso de ler o teu texto, acho que tens toda a razão no que dizes, e tb eu espero continuar a lutar pelos meus ideais e não me corromper com ideias de fácil "pragmatismo" ou suposto "realismo"

    Ps. N sei se sabes ou te lembras de quem sou, mas tb era da Vitorino Nemésio, amiga da Filipa Diogo

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  2. Inspiraste-me de tal maneira que tenho que te dizer isto:
    conta comigo para tornar essas ideias possíveis, também eu tenho vontade de mudar o mundo.

    Bjs
    Marta Ribeiro

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  3. Adorei o texto e tenho.te a dizer q estás cada vez melhor, continua assim :)

    se precisares de ajuda no sector do turismo podes contar comigo. Aliás, em tudo o que eu puder eu vou.te ajudar, porque partilho da tua opinião.

    Estou cansada daqueles que reclamam, reclamam, reclamam e não fazem nada para mudar a situação!

    estarei sempre disponível :)

    Catarina Dinis :)

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